Iniciativas ao redor do mundo têm, ultimamente, se voltado a imaginar formas de intervir no ambiente urbano a partir da atuação dos seus próprios habitantes, seja na concepção, construção, ou gerenciamento dos projetos. Compartilhando desta ideia, o urbanismo open-source, ou urbanismo de código aberto, tem buscado potencializar o papel de mudança dos cidadãos a partir da prática colaborativa.
Enquanto conceito elaborado e discutido em profundidade mais recentemente, é possível encontrar textos que abordam, em diferentes medidas, o conceito de urbanismo open-source com significados diversos. Mas, de forma geral, uma definição comum pode ser esboçada a partir do entendimento do urbanismo open-source como uma co-produção de bens urbanos comuns de código aberto.
Para esta co-produção de espaços urbanos como bens comuns, o registro e documentação das iniciativas de urbanismo de código aberto são feitos de forma a compartilhar informações, mapeamentos, guias e conhecimentos adquiridos a partir de projetos já executados. Neste sentido, a distribuição é facilitada por plataformas de TIC (tecnologias de informação e comunicação) que permitem que o conteúdo seja não só disponibilizado para todos, mas também construído coletivamente, seguindo o próprio conceito incorporado no desenvolvimento de softwares de código aberto.
El Campo de Cebada, um projeto de gestão comunitária no Distrito Central de Madri, é uma das iniciativas que buscam, além de promover a construção coletiva, distribuir o conhecimento adquirido na experiência a partir do código aberto. O projeto, que surge com a reutilização de um edifício abandonado, desenvolve junto à comunidade uma série de atividades e projetos culturais, além de disponibilizar, por meio de licença Creative Commons, o material relativo ao projeto e à construção do mobiliário.
Outro exemplo de como o open-source pode atuar nas cidades é o Wheelmap, uma plataforma de código aberto destinada a mapear os níveis de acessibilidade para cadeirantes ao redor do mundo. O mapa funciona de forma colaborativa e qualquer pessoa pode contribuir e marcar os espaços públicos de acordo com os critérios de acessibilidade preestabelecidos. O serviço está disponível como aplicativo web e para smartphones.
A lógica por trás de práticas mais tradicionais no urbanismo, baseadas no projeto ou planejamento territorial, que ditam determinadas regras de mobilidade, interação e comportamentos na cidade, é, de certa forma, reconsiderada na prática do urbanismo open-source. Este conjunto de regulamentações pode ser revisto para que possa ser adaptável, reconstituído e apropriado a partir das necessidades inconstantes e variáveis dos habitantes.
A aderência das iniciativas de urbanismo open-source à infraestrutura da cidade faz com que seus exemplos sejam reconhecidos não apenas como “projetos”, mas também como “infraestruturas” open-source. A inteligência distribuída, ao invés de centrada em uma empresa especializada, diferencia o urbanismo open-source da lógica que rege, por exemplo, o conceito de smart citiy. Essa mudança configura uma ressignificação das iniciativas realizadas “de cima para baixo” para abrir possibilidades de construção coletiva em plataformas de código aberto. Dito de outro modo, os projetos de urbanismo open-source têm apontado para outras possibilidades de modelos de governança urbana a partir da gestão das infraestruturas praticada pela própria população.